Um grande professor navega pelos limites do conteúdo, da sociedade, da política e das afeições das pessoas e comunidades para obter a visão mais clara dos seus estudantes.

Professor John Keating (Robin Williams) em Sociedade dos Poetas Mortos, 1989.
Uma das marcas do sucesso de uma ideia é sua resistência. Em qualquer profissão, as pessoas se esforçam para criar uma ideia que se destaque das demais, na esperança de que ela, eventualmente, seja adotada pela categoria ou por um setor inteiro. Com o passar do tempo (e hoje nem é tanto tempo assim!), a ideia vai desaparecendo, entrando em anonimato, pois está em todo lugar.
Esse padrão irônico é um dos grandes fardos da identidade, e não é menos flagrante ou sarcástico nas escolas e na educação em geral, onde criamos declarações de missão prometendo ensinar os estudantes a pensar por si mesmos — a criar, projetar e colaborar — em uma busca desajeitada pelo domínio de um conteúdo, reconhecidamente acadêmico.
Há um conflito com a grandeza na educação.

Professor Mark Thackeray (Sidney Poitier) em Ao Mestre, com Carinho, de 1966.
Hoje, há uma quantidade significativa de pesquisas que mostram que fornecer aos estudantes acesso a um currículo garantido e viável tem um impacto relevante no desempenho dos alunos. Garantido, entenda-se: que todos os estudantes aprenderão as mesmas habilidades e competências, independentemente do Professor. Viável, porque o currículo precisa ser executado no tempo e espaços que um Professor tem para ensinar. Assim, em um currículo garantido e viável, é perfeitamente razoável que se estabeleçam parâmetros para um ritmo comum. Mas nesse processo, podemos estar perdendo a pureza do brilhantismo que torna grandes professores excelentes.

Professora Katherine Ann Watson (Julia Roberts) em O Sorriso de Mona Lisa.
Mas a reflexão aqui proposta não é ao modelo de educação (embora coubesse), mas é sobre o que quer dizer ser um ótimo professor hoje para o modelo geral de escolas que possuímos. Ouço muitos colegas que atuam com gestão escolar e de sistemas de ensino expressando suas dificuldades em ter e manter bons professores nas instituições. E nestas observações, necessariamente, não se alude que tenha que ser um Professor com amplo domínio tecnológico, sempre atentos às tendências e gostos da atual geração em idade escolar. Mas ele, o Professor, precisa ser disruptivo. Ele precisa entender a sua função, o impacto que gera, deve pensar novas formas de desenvolver o currículo e, sobretudo, conectar-se aos seus estudantes. Esse Professor disruptivo é o que conhece mais profundamente o seu estudante, suas dores e dificuldades, o seu contexto e a sua realidade. Entretanto, outra ironia trágica: ensinar bem significa ensinar diferente e isso não é fácil. Estes Professores, frequentemente, desafiam o que você está procurando porque o nosso currículo viável nos faz procurar por fatores de padronização.

Professor Tibúrcio (Marcelo Tas), TV Cultura, 1994-1997.
Quando dizemos “ótimo professor”, podemos estar pensando naquele que “muda vidas”, “alcança os estudantes” e “ensina a pensar”. Mas, na verdade, podemos estar querendo dizer que ele “explica bem o conteúdo”, “executa, com eficiência, o material” e “cumpre os prazos estabelecidos”. Ou seja, nada de errado com as duas expectativas se tivermos coerência com o padrão de escola que oferecemos. E essa dicotomia precisa de aprofundamento estratégico.

Segunda Chamada, série exibida pela TV Globo em 2019 e 2021.
Como seria uma escola projetada para um ótimo ensino? Como ela pode atrair, produzir e proteger um ótimo ensino que a ajude, como uma instituição cultural, a atingir seus objetivos?
Como o currículo, o ensino, a avaliação, a colaboração, o desenvolvimento profissional e outros impulsionadores da “grandeza disruptiva” podem ser projetados e integrados?
Como podemos honrar a pureza da pedagogia de bons professores e da produção de conhecimento como um processo e ato infinitamente humano? Ou o mais humano dos atos?
Quais das nossas padronizações promovem inovação e grandeza, e quais as destroem?
Um ótimo ensino é um ensino disruptivo assim como é o mundo hoje. E essa é uma ideia desconfortável que as escolas nem sempre são projetadas para permitir.
As escolas estão preparadas para grandes professores?
Reflitamos.

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